quarta-feira, 14 de março de 2012

Saudade, Poeira, estrelas e versos


( Fragmento nas dobras do tempo: Na mente, como em noite infinda  de lua cheia, de repente, por encanto e magia, um castelo sai das sombras. O poeta, mago ou solitário cavaleiro volta à Idade Média. Muitos séculos se passaram... porém, incansável, ele ainda sonha e faz versos para sua princesa-menina, que guardou em uma redoma de cristal, em um graal e em um imaginário relicário. Mas a vida é momento... e, assim,  impiedosas nuvens do tempo, escondem novamente a lua e recolhem a fortaleza de pedra, deixando apenas luzir a eterna  saudade, a tumular poeira cósmica, estrelas e versos...)

I ato

Em um canto qualquer da memória, repousa um quadro empoeirado, perdido e esquecido no porão tumular
 Na escuridão aparente da fortaleza, entre castiçais de prata e candelabros medievais, ainda brilha um cálice dourado, angustiado  e amaldiçoado em cima de uma espécie de altar.
Por toda à parte se observam restícios e sinais  de realeza, elmos jogados ao chão, mantos cobrindo prantos e espadas sem corte, anunciando a morte...

II ato

Pela derradeira fresta, imagens difusas acordam paisagens confusas.
A ponte do castelo é na verdade um elo, encanto ou passagem
Nas pradarias, a viagem é possível.
Sem dar um passo sequer, magia ou bruxaria, o pensamento corre, o pensamento voa.
Logo vem na retina, um rosto de menina, uma princesa, uma bailarina
O momento morre, o momento se esvai pela proa.
 Hoje, a menina já deve ser  mulher.

III Ato

Na masmorra, sonhos acorrentados acordam torturados planos, quase decanos.

Pobre prisioneiro do tempo,  que se embriaga com o luzir da lua de prata

E ainda espera encontrar a sua amada em outra desconhecida estrada..
Os ledos enganos passam ao longo dos anos...

Ato final

Os versos estelares persistem
Se transformam em teimosos pulsares
E a cantiga do vento não permite que nenhuma lembrança morra ao relento...
Submersos, em um canto qualquer da memória, ficam a saudade, o rosto de menina, o primeiro amor, a dor, a poeira, a lua cheia das almas, um castelo encoberto pela areia, as estrelas em meio a infindável teia do universo e os poéticos e apocalípticos versos...

 

2 comentários:

  1. Anderson, não sei nem o que dizer de tamanha grandiosidade que há neste poema. Me recordo dos meus próprios tempos de outrora....Emocionada estou.... Lágrimas que se espalham em minha face cálida de um pálido sem brilho, chegando em meus lábios o sabor salgado... e deleitam em batidas fortes no pulsar do meu coração... Castelos, nuvens que se esfumaçam um tempo se vindas, mas só trazem de volta nas lúgubres... lembranças deixadas em rastros de poeiras cósmicas... Parece que adivinhou a passagem de uma vida que o amor se esvaiu, por pura existência da culpa de uma pessoa, EU. LÚ Gonçalves.

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  2. Como sempre parabéns.Meu bom amigo
    Deise

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