Blog do Jornalista Anderson França-Entrevista
Com 88 anos de idade,
Inezita Barroso, Ignez Magdalena Aranha de Lima, seu nome de batismo, nasceu em
4 de março de 1925, no bairro da Barra Funda, em São Paulo. Filha de família
tradicional paulistana tem um coração 100 por cento caipira. É defensora das tradições populares e enciclopédia viva
da música regional, abnegação que lhe rendeu inclusive o título de doutora Honoris Causa em Folclore pela
Universidade de Lisboa.
A primeira-dama da
música regional, a cantora Inezita Barroso, que iniciou sua trajetória em 1953,
já ultrapassou a marca de 58 anos de carreira e de 80 discos gravados. Com o
primeiro disco, vieram também os primeiros sucessos: o clássico samba Ronda, de
Paulo Vanzolini e a Moda da Pinga, de Ochelsis Laureano e Raul Torres, que se
tornou a mais célebre das interpretações.
Apresenta, há 31 anos, o programa "Viola, Minha Viola" na TV
Cultura. Canta desde os sete anos de idade e também foi atriz de cinema, tendo
recebido o Prêmio Saci, um dos mais importantes da época. Na tevê, sua carreira
começou junto com a Record de Paulo Machado de Carvalho, o saudoso Marechal da
Vitória, onde foi a primeira cantora contratada. Depois passou pela Tupi e
outras emissoras, até chegar à Cultura para comandar o Viola, Minha Viola,
onde permanece até os dias atuais. Com dezenas de álbuns em sua
carreira, continua inovando, descarta as
grandes gravadoras e lança discos independentes, como seu mais recente
trabalho, Sonho de Caboclo.
Faz shows por todo o
Brasil e até 2009 deu aulas – na Cadeira de Tradições Brasileiras- em duas
universidades paulistas. Senhoras e senhores com vocês, Inezita Barroso,
Honoris Causa em Folclore.
Inezita Barroso voz de
contralto perfeita
a serviço da música
regional há mais de 60 anos.
Inezita Barroso o amor
pelo Folclore vem desde cedo?
Inezita- Nasci no bairro da Barra Funda, na zona
Oeste de São Paulo, na rua Lopes de Oliveira, bem pertinho da casa de Mário de
Andrade, na “Paulicéia Desvairada”. Desde criança me apaixonei pelo nosso
riquíssimo Folclore. O compositor Raul Torres ( A Moda da Pinga) era colega de
meu pai na estrada de ferro Sorocabana, ia com freqüência à minha casa, onde
cantava quando fazia aniversário. Além dessas mencionadas visitas, tinha
admiração por Mario de Andrade – que morava vizinho à casa de minha tia.
Conheci desde cedo as autênticas modas de viola cantadas por colonos das
fazendas de meus tios .
- Inezita, além desse
primeiro contato com a música regional o que a levou a trilhar esse caminho. Como
foi sua estréia no Universo Caipira?
Inezita- Tenho formação universitária-
Biblioteconomia -mas o amor às nossas tradições sempre falou mais alto. Estudei Canto, Piano e Violão na infância e minha estréia profissional se deu em
1950, na Rádio Bandeirantes a convite de Evaldo Rui. Participei também da
transmissão inaugural da TV Tupi, canal 3, em 1950 (no mesmo evento, a dupla
Tonico e Tinoco também havia participado apresentando a música "Pé de
Ipê" (Tonico - Tinoco) e trabalhei como cantora exclusiva da Rádio
Nacional de São Paulo, transferindo-se mais tarde para a Rádio Record. Participei
de seis filmes do nosso cinema na década de 50, inclusive na extinta Vera Cruz. Ganhei prêmios como melhor
cantora do rádio, por grandes sucessos tais como "Moda da Pinga"
(Ochelsis Laureano - Raul Torres) e "Lampião de Gás" (Zica Bergami). Nesta
mesma época era considerada "Musa Cult" da "Intelectualidade
Urbana".
- Quando começou a
dedicação ao folclore. Foi após os primeiros sucessos como cantora,
principalmente, Moda da Pinga e Lampião de Gás?
Inezita- Depois da fase de minha careira, passei a me dedicar também ao estudo e
resgate do Folclore Brasileiro, realizando gravações e ministrando cursos com o
objetivo de divulgar esse tipo de Cultura Musical. "O Folclore é vivo, é mutante, e as
modificações ocorrem na poesia, nas letras, nos instrumentos. Então, se um cara
fazia Viola a canivete, lá no quintal da casa dele, a gente admite que compre
uma Viola maravilhosa, moderna, com um som aprimorado, né? Agora, inadmissível,
são coisas que acontecem nesse terreno, que não têm limite: Eu soube que em
Minas tem uma Folia de Reis que sai com gravador e o pessoal
"dublando" atrás. É indecente demais pra mim. "
"... não é que eu não goste, mas eles quebraram aquela unidade caipira.
Então dali pra cá começaram a aparecer as duplas ditas modernas, né? Criou-se
nesse momento, não uma inimizade, mas uma prevenção contra esse tipo de música.
Os caipiras resolveram se unir, porque não havia mais lugar para eles, eles
estavam indo embora, pro interior. "
Você sempre teve o nome ligado à vanguarda e lutou contra preconceitos?
Você sempre teve o nome ligado à vanguarda e lutou contra preconceitos?
Inezita- Lutei e venci. Houve exigências do mercado fonográfico que, na maioria
das vezes, têm deturpado o verdadeiro valor da nossa Boa Música Brasileira.
Enfrentei de frente o "preconceito machista": era jovem, bonita da
alta sociedade paulistana e nas décadas de 20, 30 e 40 São Paulo era
ainda bem provinciana) e não aceitava, em princípio, uma mulher cantando e
tocando ao violão as músicas do nosso rico Folclore! Mas não me deixei abater..
cheguei a interpretar até mesmo árias de óperas como "Carmen" de
Georges Bizet, mas, "apenas em família". Mas, meu gosto musical,
minha verdadeira paixão, sempre esteve "nas estradas de terra" rumo
às mais remotas manifestações musicais desse nosso Brasil tão imenso!!
Houve resistência ao seu trabalho nas emissoras de rádio?
Houve resistência ao seu trabalho nas emissoras de rádio?
Inezita- Desnecessário dizer que, no início, também enfrentei resistência nos
ambientes das emissoras de rádio e também das gravadoras, eram outros tempos de
uma São Paulo calma e serena, que era pequena, mas grande demais...", onde
já se sentia saudade do "Lampião de Gás" (a belíssima música de Zica
Bergami que o diga...), mas ainda era a "Velha São Paulo Quatrocentona.
Inezita, você produziu um documentário sobre nossas raízes
e levou para o outro lado do mundo, Japão?
Inezita- Foi em 1970. O documentário representou
o Brasil na Expo-70, no Japão. Também produzi diversos documentários e
programas para a TV de um modo geral, tendo viajado pelo Mundo inteiro com esse
Repertório Folclórico. Fiz programas especiais para o Uruguai, Paraguai,
Estados Unidos, Israel, França, Itália e até mesmo para a União Soviética.
Gravei mais de 70 discos entre os "bolachões 78 rpm", LP's e CD's.
- E o Viola Minha Viola, tem um carinho especial e um pedaço importante em seu coração?
- E o Viola Minha Viola, tem um carinho especial e um pedaço importante em seu coração?
Inezita- Continuo apresentando na TV Cultura de São Paulo o
Programa Viola Minha Viola ("Êta Programa que
eu gosto!!"), que existe desde 1980 e é o mais antigo programa do gênero
na Televisão Brasileira. Ele é transmitido em rede para todo o Brasil. Vai ao ar nas noites de sábado com reprise
nas manhãs de domingo.
Inezita Barroso é considerada a maior autoridade em
folclore brasileiro. E o trabalho de pesquisa do Folclore?
Inezita – Ainda é intenso. O trabalho de pesquisa do Folclore se desenvolve por diversos Estados
Brasileiros. Faço palestras sobre o tema e ministro diversos cursos sobre
Folclore para Secretarias Municipais de Cultura e também para a Secretaria da
Educação do Estado de São Paulo. Poucos sabem, mas sou Professora de Folclore
Brasileiro e História da Música Popular Brasileira. Continuo na estrada,
fazendo shows pelo Interior e Capitais.
Depois de tanta disposição DEMONSTRADA, Inezita Barroso só
nos resta lhe dar parabéns pela história de vida e dedicação a nossa música
regional. E para o apreciador desse seu
trabalho maravilhoso deixar o convite para visitar o site oficial : www.inezitabarroso.com.br Vale a pena conferir fotos de diversos momentos de sua carreira, agenda
de shows e deliciosas Receitas Caipiras!
Parabéns, Inezita!! Parabéns pelo "Viola Minha Viola" e por
defender a nossa autêntica Música Raiz!!
Contato para shows:
(11) 3221-0727
(11) 3221-4017
(11) 3337-7309
(11) 9601-3653
e-mail: falecom@inezitabarroso.com.br
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