quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Honoris Causa em Folclore


INEZITA BARROSO

Com 86 anos de idade, Inezita Barroso, Ignez Magdalena Aranha de Lima, seu nome de batismo, nasceu em 4 de março de 1925, no bairro da Barra Funda, em São Paulo. Filha de família tradicional paulistana tem um coração 100 por cento caipira. É defensora  das tradições populares e enciclopédia viva da música regional, abnegação que lhe rendeu inclusive o título de doutora Honoris Causa em Folclore pela Universidade de Lisboa.

A primeira-dama da música regional, a cantora Inezita Barroso, que iniciou sua trajetória em 1953, já ultrapassou a marca de 58 anos de carreira e de 80 discos gravados. Com o primeiro disco, vieram também os primeiros sucessos: o clássico samba Ronda, de Paulo Vanzolini e a Moda da Pinga, de Ochelsis Laureano e Raul Torres, que se tornou a mais célebre das interpretações.  Apresenta, há 31 anos, o programa "Viola, Minha Viola" na TV Cultura. Canta desde os sete anos de idade e também foi atriz de cinema, tendo recebido o Prêmio Saci, um dos mais importantes da época. Na tevê, sua carreira começou junto com a Record de Paulo Machado de Carvalho, o saudoso Marechal da Vitória, onde foi a primeira cantora contratada. Depois passou pela Tupi e outras emissoras, até chegar à Cultura para comandar o Viola, Minha Viola, onde permanece até os dias atuais. Com dezenas de álbuns em sua carreira, continua inovando,  descarta as grandes gravadoras e lança discos independentes, como seu mais recente trabalho, Sonho de Caboclo.
Faz shows por todo o Brasil e até 2009 deu aulas – na Cadeira de Tradições Brasileiras- em duas universidades paulistas. Senhoras e senhores com vocês, Inezita Barroso, Honoris Causa em Folclore.

Anderson França-- Inezita Barroso o amor pelo Folclore vem desde cedo?

Inezita- Nasci no bairro da Barra Funda, na zona Oeste de São Paulo, na rua Lopes de Oliveira, bem pertinho da casa de Mário de Andrade, na “Paulicéia Desvairada”. Desde criança me apaixonei pelo nosso riquíssimo Folclore. O compositor Raul Torres ( A Moda da Pinga) era colega de meu pai na estrada de ferro Sorocabana, ia com freqüência à minha casa, onde cantava quando fazia aniversário. Além dessas mencionadas visitas, tinha admiração por Mario de Andrade – que morava vizinho à casa de minha tia. Conheci desde cedo as autênticas modas de viola cantadas por colonos das fazendas de meus tios .

Anderson França- Inezita, além desse primeiro contato com a música regional o que a levou a trilhar esse caminho. Como foi sua estréia no Universo Caipira?

Inezita- Tenho formação universitária- Biblioteconomia -mas o amor às nossas tradições sempre falou mais alto. Estudei Canto, Piano e Violão na infância e minha estréia profissional se deu em 1950, na Rádio Bandeirantes a convite de Evaldo Rui. Participei também da transmissão inaugural da TV Tupi, canal 3, em 1950 (no mesmo evento, a dupla Tonico e Tinoco também havia participado apresentando a música "Pé de Ipê" (Tonico - Tinoco) e trabalhei como cantora exclusiva da Rádio Nacional de São Paulo, transferindo-se mais tarde para a Rádio Record. Participei de seis filmes do nosso cinema na década de 50, inclusive na  extinta Vera Cruz. Ganhei prêmios como melhor cantora do rádio, por grandes sucessos tais como "Moda da Pinga" (Ochelsis Laureano - Raul Torres) e "Lampião de Gás" (Zica Bergami). Nesta mesma época era considerada "Musa Cult" da "Intelectualidade Urbana".
Anderson França- Quando começou a dedicação ao folclore. Foi após os primeiros sucessos como cantora, principalmente, Moda da Pinga e Lampião de Gás?
Inezita- Depois da fase de minha careira, passei a me dedicar também ao estudo e resgate do Folclore Brasileiro, realizando gravações e ministrando cursos com o objetivo de divulgar esse tipo de Cultura Musical.  "O Folclore é vivo, é mutante, e as modificações ocorrem na poesia, nas letras, nos instrumentos. Então, se um cara fazia Viola a canivete, lá no quintal da casa dele, a gente admite que compre uma Viola maravilhosa, moderna, com um som aprimorado, né? Agora, inadmissível, são coisas que acontecem nesse terreno, que não têm limite: Eu soube que em Minas tem uma Folia de Reis que sai com gravador e o pessoal "dublando" atrás. É indecente demais pra mim. "

"... não é que eu não goste, mas eles quebraram aquela unidade caipira. Então dali pra cá começaram a aparecer as duplas ditas modernas, né? Criou-se nesse momento, não uma inimizade, mas uma prevenção contra esse tipo de música. Os caipiras resolveram se unir, porque não havia mais lugar para eles, eles estavam indo embora, pro interior. "

Anderson França- Você sempre teve o nome ligado à vanguarda e lutou contra preconceitos?
Inezita- Lutei e venci. Houve exigências do mercado fonográfico que, na maioria das vezes, têm deturpado o verdadeiro valor da nossa Boa Música Brasileira. Enfrentei de frente o "preconceito machista": era jovem, bonita da alta sociedade paulistana e nas décadas de 20, 30 e 40 São Paulo era ainda bem provinciana) e não aceitava, em princípio, uma mulher cantando e tocando ao violão as músicas do nosso rico Folclore! Mas não me deixei abater.. cheguei a interpretar até mesmo árias de óperas como "Carmen" de Georges Bizet, mas, "apenas em família". Mas, meu gosto musical, minha verdadeira paixão, sempre esteve "nas estradas de terra" rumo às mais remotas manifestações musicais desse nosso Brasil tão imenso!!

Anderson França- H
ouve resistência ao seu trabalho nas emissoras de rádio?
Inezita- Desnecessário dizer que, no início, também enfrentei resistência nos ambientes das emissoras de rádio e também das gravadoras, eram outros tempos de uma São Paulo calma e serena, que era pequena, mas grande demais...", onde já se sentia saudade do "Lampião de Gás" (a belíssima música de Zica Bergami que o diga...), mas ainda era a "Velha São Paulo Quatrocentona.
Anderson França- Inezita, você produziu um documentário sobre nossas raízes e levou para o outro lado do mundo, Japão?

Inezita- Foi em 1970. O documentário  representou o Brasil na Expo-70, no Japão. Também produzi diversos documentários e programas para a TV de um modo geral, tendo viajado pelo Mundo inteiro com esse Repertório Folclórico. Fiz programas especiais para o Uruguai, Paraguai, Estados Unidos, Israel, França, Itália e até mesmo para a União Soviética. Gravei mais de 70 discos entre os "bolachões 78 rpm", LP's e CD's.

Anderon França- E o Viola Minha Viola, tem um carinho especial e um pedaço importante em seu coração?
Inezita- Continuo apresentando na TV Cultura de São Paulo o Programa Viola Minha Viola ("Êta Programa que eu gosto!!"), que existe desde 1980 e é o mais antigo programa do gênero na Televisão Brasileira. Ele é transmitido em rede para todo o Brasil.  Vai ao ar nas noites de sábado com reprise nas manhãs de domingo.
Anderson França
- Inezita Barroso é considerada a maior autoridade em folclore brasileiro. E o trabalho de pesquisa do Folclore?
Inezita – Ainda é intenso. O trabalho de pesquisa do Folclore  se desenvolve por diversos Estados Brasileiros. Faço palestras sobre o tema e ministro diversos cursos sobre Folclore para Secretarias Municipais de Cultura e também para a Secretaria da Educação do Estado de São Paulo. Poucos sabem, mas sou Professora de Folclore Brasileiro e História da Música Popular Brasileira. Continuo na estrada, fazendo shows pelo Interior e Capitais.
Anderson França- Depois de tanta disposição DEMONSTRADA, Inezita Barroso só nos resta lhe dar parabéns pela história de vida e dedicação a nossa música regional. E para o  apreciador desse seu trabalho maravilhoso deixar o convite para visitar o site oficial : www.inezitabarroso.com.br  Vale a pena conferir  fotos de diversos momentos de sua carreira, agenda de shows e deliciosas Receitas Caipiras!  Parabéns, Inezita!! Parabéns pelo "Viola Minha Viola" e por defender a nossa autêntica Música Raiz!!

Contato para shows:
(11) 3221-0727
(11) 3221-4017
(11) 3337-7309
(11) 9601-3653
e-mail:
falecom@inezitabarroso.com.br


Nenhum comentário:

Postar um comentário